quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Acidente "Expresso Baiano" Jornal Folha da Manhã


Texto na integra do Jornal "Folha da Manhã" de 25/12/1955

O fatídico quilometro 428, onde as gondolas do cargueiro chocaram com o
"Expresso Baiano", Eis o que sobrou dos vagões da segunda classe.

Constatadas, até o momento, quinze mortes no desastre ferroviário de domingo em Guararema


Ignorado ainda o numero exato de feridos - AS gondolas soltaram-se do cargueiro e em grande velocidade chocaram com o "Expresso Baiano" - Grande numero de feridos transportado para o Hospital das Clinicas


Moradores de Mogi das Cruzes, espontaneamente, oferecem sangue às vitimas.


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Gritos de dor e desespero interromperam os cânticos de Natal e disparam e luto as festas de domingo, quando ocorreu o pavoroso desastre da Estrada de Ferro Central do Brasil. A fatalidade traçou o roteiro trágico das quatro gondolas de aço que desengataram do comboio CP-74, que se destinava ao Rio de Janeiro. A composição vencia o declive entre, Guararema e São Silvestre e nas proximidades do túnel os vagões, conduzindo carvão para Volta Redonda, soltaram-se e num percurso de quase quatro quilômetros ganharam velocidade , para chocar com a composição RP-4, mais conhecida como "Expresso Baiano".

O agente da estação em serviço , Sr. José Rometro Pantagua, e o guarda chaves Sebastião Firmino, foram surpreendidos quando passaram pela estação quatro vagões desgovernados. Mais adiante, na altura do quilometro 428, antes do semáforo, achava-se parado o RP-4, à espera de linha livre. Atônitos, os dois funcionários nada puderam fazer até que foram despertados do panico pelo forte estrondo provocado pelo choque das gondolas com a máquina 3.207, que puxava o "Expresso Baiano". Imaginado o as proporções do sinistro, providenciaram socorros imediatamente, informando a delegacia de policia o ocorrido.

Imediatamente rumaram para o locas as praças de serviço  na delegacia e o pessoal da estrada. Gritos de dor e fogo e ferragens retorcidas, eis o quadro que se oferecia aos primeiros que ali chegavam, procurando oferecer socorros às vitimas. O vagão-correiro, prensado pela locomotiva e pelo tender, subiu por sobre um vagão de segunda-classe que, por sua vez prensou um segundo carro. O desastre tinha proporções imprevistas e dado o numero de corpos que se retorciam em dores entre ferragens e lascas ponte agudas de madeira, o delegado José Cesar Pestana comunicou-se com Jacareí e Mogi das Cruzes, para pedir socorros urgentes e solicitar a colaboração da Santa Casa local, que para ali enviou o seu médico e alguns enfermeiros.

QUADRO INDESCRITÍVEL

O quadro era indescritível. Gente que agonizava, homens a pedir socorro, mulheres que procuravam seus filhos, sangue e pedaços de corpos por todos os lados. Os soldados do destacamento de Guararema portaram-se com heroísmo, não vacilando em arriscar sua vida entre os escombros dos carro atingidos. Removiam vigas de madeira, pedaços de vidro e dentre o entulho retiravam os corpos. Ali mesmo no local o medico Djalma Azevedo Tavares fazia operações de emergência, colocando torniquetes nos membros amputados dos feridos, estancando hemorragias e ordenando a remoção dos mais graves para a Santa Casa. O desastre ocorrera às 17h 45 e somente uma hora depois é que chegavam os socorros de Jacareí e Mogi das Cruzes, De ão Paulo partiram cerca de vinte ambulancias do Pronto Socorro Municipal, com equipamento de plasma e médicos para prestarem ali no local melhor assistência às vitimas.

Os passageiros dos outros vagões cata tonizados assistiram ao desfile de mortos e feridos e numa mesma falna misturaram-se soldados, médicos, funcionários da estrada, procurando salvar o maior numero de vitimas possível.

NÃO HAVIA CRIANÇAS

Não havia crianças entre os mortos e feridos. Os pequenos passageiros foram salvos como que por milagre. Entre os escombros um soldado retirou uma criancinha nua e colocou no lado de um poste telegrafo enquanto tirava a progenitora ferida levemente, e que entre ferros e dores esquecia o sofrimento chamando nos gritos pela filhinha. Quando viu salva, começou a chorar, o que comoveu a todos quanto presenciaram aquela cena.

Imediatamente, ao sabe do estado das vitimas e da situação em que se encontrava a Santa Casa, lutando com dificuldades de sangue, centenas de pessoas se prontificaram a dar dos seu para salvar as vitimas.

PORMENORES DO DESASTRE

A nossa reportagem, esteve na estação de Guararema, onde colheu informações sobre o desastre. Ali ouviu explicações que esclareceram melhor o trágico acidente que arrebatou tantas vidas. Informaram-nos que a praxe foi na tarde de domingo fielmente obedecida. Passou primeiramente pela estação o CP-74, trem de carga. Somente depois de ter chegado à estação de São Silvestre é que seria liberado a linha. Isto porque  aquele trecho é em declive e para prevenir acidentes um trem só pode seguir viagem quando o que vai na frente chega à estação de São Silvestre.

O desengate foi fatal e tomou todo mundo de surpresa. O RP-4 permanecia parado à espera de "linha livre". As gondolas que se soltaram não eram da Estrada de Ferro Central do Brasil  e sim da Estrada de Ferros Santos a Jundiaí, com engates adaptados, Além do mais, contrariando as normas de segurança que devem ser usadas justamente para evitar tais casos. Escapando o engate, a corrente susteria os vagões. Não havia correntes de segurança e o resultado foi o trágico acidente de Guararema. Os vagões que escaparam eram de números 10.345, 10.411, 10.485 e 9.041. Estavam ligados a composição CP-74 que tinha como maquinista Eurico  de Freitas, como ajudantes Vicente  José Pires Cornelio, como graxeiro Augusto Marques da Silva e como guarda-feios Odilon Reis.  O RP-4 era conduzido por Artur dos Santos, tendo como ajudante Mario Monteiro dos Santos e o chefe do trem Otavio Silva Catarino. Convem ressaltar a atuação do chefe de trem Otavio da Silva Catarino que desde as 17h 45 até às 3 da madrugada ajudou a retirar e a transportar feridos para as ambulâncias. Suas roupas ficaram banhadas em sangue e ele não se afastou do trem durante um só minuto , providenciando que os bens dos feridos fosse m protegidos.

Outra pessoa digna de citação é o  cabo reformado da Força Publica Sebastião Alves Damasceno, que assim que soube do desastre deixou o seu lar e foi oferecer seus serviços no delegado, prestando valiosa colaboração.

SOLIDARIEDADE

O movimento da solidariedade se fez sentir imediatamente. Todos esqueceram as alegrias do Natal e de qualquer maneira ofereciam a sua ajuda. O prefeito local Sr. João Freire Martins, colocou os caminhões da Prefeitura à disposição da Policia. O provedor da Santa Casa, Sr. Alberto de Aguiar Welsonn e Alle Israel deixaram seus afazeres particulares e prestaram serviços que sem os quais não seria possível salvarem-se dezenas de pessoas.

De Jacareí partiram ambulâncias e caminhões da Prefeitura sob as ordens da prefeitura sob as ordens do prefeito daquela cidade, Sr. Luís de Araujo Maximo. O escrivão da delegacia local Sr. Carlos Camargo, comandou a remoção imediata dos feridos para Jacareí.

No local estiveram presentes o secretario de Segurança, Sr. João Batista Arruda Sampaio, o comandante da Força Publica, o Sr. Valdemar Teixeira Pinto, diretor do Pronto Socorro.

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